Inauguração: 17 Janeiro, 22 horas
Galeria Quadrado Azul, Lisboa
No livro Danúbio de Claudio Magris, o rio homónimo começa algures na Floresta Negra, na Alemanha, precisamente numa torneira que pinga, um pouco acima da sua tida fonte. Da mesma forma, A gruta já aqui estava, oculta e em potência, atrás das paredes da galeria. Por afiliação, poderia ter sido construída por refugiados alemães que aqui chegaram durante a primeira guerra mundial. A construção tem qualidades que a aproximam do expressionismo alemão no cinema, com eco na Merzbau (1937) de Kurt Schwitters. As suas protuberâncias pontiagudas e diagonais esticadas estão directamente relacionadas com uma agonia do momento vivido.
A gruta foi construída com materiais rejeitados pela sociedade que formam um misto de natural e artificial, evidenciando a crosta tóxica que a Natureza não consegue renovar por completo.
Sob a nuvem negra do capitaloceno, a intensidade e heterogeneidade das forças produtivas de Hugo Canoilas, Vasco Costa e Filipe Feijão convergem num todo que é o princípio de uma obra colectiva, que será desenvolvida com um conjunto de artistas de diferentes gerações, geografias e afiliações artísticas sociais e políticas.
A gruta pretende propor formas alternativas ao auto-centrismo humano e pensar em novos modos de empatia entre os humanos e os restantes animais, plantas e elementos no mundo.
A gruta evoca as pinturas rupestres e o enigma que as protege. Carrega consigo um conjunto alargado de projeções que têm sido feitas sobre o acontecimento extraordinário que é o início da produção de imagens. A mais relevante destas abordagens é a teoria de que as primeiras imagens foram produzidas por uma evolução da consciência humana. Esta obra procura dar voz a novas formas de consciência, propondo-se como campo fértil para a expressão para além do racional ou entre o racional e o hipersensível.
De mãos dadas com esta capacidade da arte para no seu estado material ser algo para além da ciência, criando novas analogias e novas relações entre coisas, a arte assume-se como modo genuíno para pensar o agora, a forma como as novas formas de subjetivação afetam as nossas relações interpessoais, as relações entre os humanos, a flora e a fauna durante a Quarta Revolução Industrial.
A primeira intervenção n’A gruta é da autoria de Ana Vaz, que dialogou com Hugo Canoilas, Vasco Costa e Filipe Feijão na construção d'A Gruta, de modo a transformá-la num espaço para receber cinema. Numa espécie de exercício tautológico, e convocando o carácter ritualista das primeiras imagens projectadas, através do fogo, no interior das cavernas, A Gruta apresenta o filme A Idade da Pedra (2013).
Em A Idade da Pedra, uma viagem ao extremo oeste do Brasil leva-nos a uma estrutura monumental - petrificada no centro da savana. Inspirado na construção épica da cidade de Brasília, este filme utiliza a História para a imaginar de um modo diferente. "Olho Brasília como olho Roma: Brasília começou com uma simplificação final de ruínas." Através dos traços geológicos que nos conduziram a este monumento fictício, o filme desenterra uma história de exploração, profecia e mito.
"Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado."
Clarice Lispector
"Um viagem ao território desconhecido do Brasil leva-nos a descobrir uma estrutura monumental e submerge-nos nas formas e texturas da pedra. Este filme, inspirado na construção da capital moderna do país, é um documentário de ficção científica, um objecto surpreendente entre o cinema de Glauber Rocha e as artes visuais. Uma vertigem visionária de tirar o fôlego."
Visions du Réel, 2014
2013 | 29' | 16mm/HD | color | 5.1 sound
Produção: Le Fresnoy, Studio national des arts contemporains
Co-produção: Gabinete de Criação, Fabrika Filmes
New York Film Festival - Views from the Avant Garde, New York, EUA, 2013
Visions du Réel, International Competition, Nyon, Suíça, 2014
Media City Film Festival, International Competition, Windsor, Canadá, 2014
Images Festival, Double Nature, Toronto, Canadá
Femina Internaitonal Film Festival, Special Jury Prize, Rio de Janeiro, Brasil, 2014
Museum of the Republic, Brasília, Brasil, 2014