2019.05.31—2019.06.12
Les Corps Enchantés
Rubene Palma Ramos, Jorge das Neves, CRAMOL

Rubene Palma Ramos e Jorge das Neves

com CRAMOL   

Inauguração e performance pelo grupo coral CRAMOL: 

31 Maio, 21h30



Depois da construção da gruta, Rubene Palma Ramos propõe a projeção de Maciste all'inferno (1925) de G. Brignone. A discussão desenvolveu-se em torno da forma como, no filme, as mulheres-ninfas são apresentadas,  numa abordagem distante da que a gruta ambiciona transmitir, e que, no seu arco entre um passado distante e o momento presente, pretende estabelecer uma  equidade emancipatória.


Uma das figuras em imanência no projeto é Segundo de Chomón (1871 –1929), realizador mítico dos primórdios do cinema. O título Les Corps Enchantés é um desvio que se apropria do título Les Verres Enchantés (1907) do realizador espanhol; "verres", (em francês, "copos") metamorfoseia-se na palavra corpos. O projeto de Rubene Palma Ramos e Jorge das Neves é uma homenagem ao cinema de Chomón. Tal como nas primeiras pinturas rupestres, que surgem num contexto em que forças mágicas, religiosas e artísticas eram inseparáveis, também no surgimento das primeiras imagens em movimento, no final do século XIX, arte e magia eram inextrincáveis.


A gruta estabelece uma ligação com o universo mágico dos primórdios do cinema, permitindo aos seus autores uma panaceia artística, feita de apropriações de gestos, quebras e manuseamento de imagens, tudo sublimado por um conjunto específico de canções interpretadas a capella dentro da gruta, pelo grupo coral CRAMOL, que faz também a banda sonora do filme. As vozes e o espaço entre vozes deste grupo coral entra-nos no corpo como coisa etérea e ajuda-nos a preencher os espaços entre ações e imagens do filme. O grupo e o seu canto convocam um imaginário ritualista, distante do universo artificial presente nos filmes de Chómon, esse encontro improvável cria uma estranheza que é fértil para pensar alguns dos temas em causa no projecto d' A Gruta.


O filme Makron et Les Corps Enchantés mostra um gigante, Makron, que evoca a ideia de um super-humano como Hércules ou Maciste, sobrepondo-a, com ironia, à ideia do super-humano como artista. Makron é um gigante em suspensão, numa ascese estética em relação ao mundo e aos seus elementos, e que nos coloca fora do tempo.


O som das vozes vem do interior da gruta, que passa a funcionar como um búzio ou concha, capaz de editar as vozes do coro, que se projectam para o exterior, onde se encontra o filme. Objecto Encantado é uma escultura em ferro inspirada na ambiência metálica dos cenários e figurinos de Maciste all'inferno, sobretudo nas cenas que se desenrolam no inferno, espaço subterrâneo cujo acesso é feito através de uma gruta. Em paralelo, vidros com imagens fotográficas intervencionadas evocam a origem da imagem em movimento, numa análise visual de corpos em diversas posições no espaço-tempo. 


   
Rubene Palma Ramos, Portimão, 1977. Vive e trabalha em Lisboa   
Jorge das Neves, Ilha de Moçambique, 1973. Vive e trabalha em Coimbra.
   
O Cramol é um grupo de mulheres que desenvolve a sua actividade no âmbito de uma associação cultural, a Biblioteca Operária Oeirense. Formado em 1979, o grupo dedica-se ao canto tradicional de mulheres para dar voz às sonoridades ancestrais do seu canto, um dos mais ricos patrimónios da música rural “a capella”. Conta, na sua carreira, com centenas de concertos em todo o país e no estrangeiro, em peças de teatro, de dança, tem participado em edições discográficas e partilhado palcos com outros músicos e outras músicas. O Cramol é colaborador do IELT – Instituto de Literatura e Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

 
Les Corps Enchantés (vista de exposição). . n' A Gruta, Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
Objecto Encantado, 2019. tinta acrílica s/ tubo de ferro e chapa galvanizada. 184 x 712 x 3 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés (vista de exposição). . n' A Gruta, Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #1,#6, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. Fotografia de João Ferro Martins. 
Objecto Encantado, 2019. tinta acrílica s/ tubo de ferro e chapa galvanizada. 184 x 712 x 3 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Objecto Encantado, (detalhe), 2019. tinta acrílica s/ tubo de ferro e chapa galvanizada. 184 x 712 x 3 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #1,#2, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #3-#6, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés (vista de exposição). . n' A Gruta, Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés (vista de exposição). . n' A Gruta, Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés (vista de exposição). . n' A Gruta, Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #1, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. 29 x 41 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #2, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. 32 x 45 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #3, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. 32 x 45 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #4, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. 33 x 46 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #5, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. 33 x 46 cm. Fotografia de João Ferro Martins. 
Les Corps Enchantés #6, 2019. impressão de gelatina e sais de prata e aguarela s/ MDF pintado e vidro martelado. 33 x 46 cm. Fotografia de João Ferro Martins.