2019.06.15—
Titania Seidl


Inauguração: 15 Junho, 18 horas


Titania Seidl (1988, Viena) é a segunda artista convidada a desenvolver uma intervenção nas paredes d’A Gruta. As pinturas murais na gruta vão-se sobrepondo e justapondo, num processo colectivo de apropriação e apagamento, que cria comunidade entre todos os participantes. 


As pinturas de Titania Seidl têm uma qualidade diagramática[1], pela forma como acumulam vários tipos de input (da própria arte, à história pessoal, social e política). Os seus trabalhos recentes apresentam cortinas que se tornam elementos esculturais, suspensos no céu. Os seus motivos originais são tecidos pintados no período barroco, que cobriam a nudez das mulheres. Ao autonomizar estes elementos, a pintura de Seidl realiza uma suspensão da qualidade ou funcionalidade do motivo, do seu tempo e da sua gravidade, que adquirem assim uma qualidade emancipatória.


A intervenção de Seidl em alguns nichos do “tecto” da gruta evoca os céus pintados do período barroco. Estes pedaços de céu rompem a gruta de forma ilusória, com a projeção da luz das nossas lanternas quando descobrem as quatro intervenções.


Os motivos que deram origem a estas pinturas são aguarelas abstractas feitas pela artista, que seguram zonas de cor e formam diferentes intensidades na relação entre quantidade de aguarela, água, absorção e tempo de secagem. Tudo na horizontal e em perfeita harmonia com a gravidade. N' A Gruta, a transposição destas marcas é feita para o tecto, contra a gravidade, com cores acrílicas e um medium que ajuda a tinta a ocupar as protuberâncias e relevos das paredes. Aquilo que é, de forma natural, uma barreira e um obstáculo para os pintores torna-se um agente transformador da qualidade da pintura. As zonas de cor na gruta podem ser entendidas simplesmente como zonas de cor ou como céus abertos, mas são sobretudo receptáculos para a impressão da autora sobre a gruta, como uma marca de uma mão que a toca, na procura por um determinado tipo de empatia. As quatro zonas escolhidas activam o espaço, conferem-lhe áreas de intensidade e silêncio e devolvem valor a todas as marcas das paredes que não foram intervencionadas.


De forma complementar à intervenção da artista n' A Gruta, apresentamos três  pinturas recentes e um texto. O texto que a artista tem vindo a desenvolver desdobra as suas preocupações internas e micronarrativas, e  reforça a intencionalidade da sua pintura como um lugar de introspecção e individuação.


[1] A pintura como diagrama, é uma ideia desenvolvida por Gilles Deleuze em Francis Bacon: Lógica da Sensação (Trad. José Miranda Justo;  Ed. Orfeu Negro, Julho de 2018, Lisboa).

 

 

 

 

 

. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins. 
. Titania Seidl, n' A Gruta. Quadrado Azul, Lisboa, 2019. Fotografia de João Ferro Martins.