Inauguração: 15 Junho, 18 horas
Titania Seidl (1988, Viena) é a segunda artista convidada a desenvolver uma
intervenção nas paredes d’A Gruta. As
pinturas murais na gruta vão-se sobrepondo e justapondo, num processo colectivo
de apropriação e apagamento, que cria comunidade entre todos os participantes.
As pinturas de Titania Seidl têm uma qualidade diagramática[1],
pela forma como acumulam vários tipos de input
(da própria arte, à história pessoal, social e
política). Os seus trabalhos recentes
apresentam cortinas que se tornam elementos esculturais, suspensos no céu. Os
seus motivos originais são tecidos pintados no período barroco, que cobriam a
nudez das mulheres. Ao autonomizar estes elementos, a pintura de Seidl realiza
uma suspensão da qualidade ou funcionalidade do motivo, do seu tempo e da sua
gravidade, que adquirem assim uma qualidade emancipatória.
A intervenção de Seidl em alguns nichos do “tecto” da gruta evoca os céus
pintados do período barroco. Estes pedaços de céu rompem a gruta de
forma ilusória, com a projeção da luz das nossas lanternas quando descobrem as
quatro intervenções.
Os motivos que deram origem a estas pinturas são aguarelas abstractas feitas
pela artista, que seguram zonas de cor e formam diferentes intensidades na
relação entre quantidade de aguarela, água, absorção e tempo de secagem. Tudo
na horizontal e em perfeita harmonia com a gravidade. N' A Gruta, a transposição destas marcas é feita para o tecto, contra a
gravidade, com cores acrílicas e um medium
que ajuda a tinta a ocupar as protuberâncias e relevos das paredes. Aquilo que
é, de forma natural, uma barreira e um obstáculo para os pintores torna-se um
agente transformador da qualidade da pintura. As zonas de cor na gruta podem ser
entendidas simplesmente como zonas de cor ou como céus abertos, mas são
sobretudo receptáculos para a impressão da autora sobre a gruta, como uma marca
de uma mão que a toca, na procura por um determinado tipo de empatia. As quatro
zonas escolhidas activam o espaço, conferem-lhe áreas de intensidade e silêncio
e devolvem valor a todas as marcas das paredes que não foram intervencionadas.
De forma complementar à intervenção da artista n' A Gruta, apresentamos três pinturas recentes e um texto. O texto que a artista
tem vindo a desenvolver desdobra as suas preocupações internas e
micronarrativas, e reforça a
intencionalidade da sua pintura como um lugar de introspecção e individuação.
[1] A pintura como diagrama, é uma ideia desenvolvida por Gilles Deleuze em Francis Bacon: Lógica da Sensação (Trad. José Miranda Justo; Ed. Orfeu Negro, Julho de 2018, Lisboa).