Em 2001, um happening transformou a Galeria Quadrum — localizada a mil e quinhentos metros da Galeria Quadrado Azul, em Lisboa — num estúdio de gravação, cujo aparato cenográfico permitia aos visitantes observar, de forma direta e indireta, a produção de um filme pornográfico que viria a integrar o circuito comercial com o título Fantasia na Galeria, da autoria de Rita Ruby.
Recuperamo-lo agora, um quarto de século depois, não para um remake, mas para lhe dar visibilidade à luz de La Peau de Chagrin, romance de Honoré de Balzac publicado em 1831, cuja narrativa se centra num objeto mágico — a “pele de ónagro” (pele de burro) — capaz de realizar os desejos do seu possuidor, mas com uma condição: a cada desejo cumprido, a pele encolhe, tal como a vida do desejante.
Na ausência da audiência do peep-show, entediada pelos esforços heróicos dos seus performers ao vivo, take após take, são as pinturas melacólicas de desastre de Willem Weismann, a amizade íntima dos graffiti de Ernesto Sousa, os sonhos e autoficções de Titania Seidl e os objetos de hipersensibilidade de Musa paradisiaca que nos fitam, enquanto acedemos, com intencionalidade e bravura, aos longínquos desejos de liberdade daquele início do século vinte e um.