Primeiro abre-se a porta
por dentro sobre a tela imatura onde previamente
se escreveram palavras antigas: o cão, o jardim impresente,
a mãe para sempre morta.
Anoiteceu, apagamos a luz e, depois,
como uma foto que se guarda na carteira,
iluminam-se no quintal as flores da macieira
e, no papel de parede, agitam-se as recordações.
Protege-te delas, das recordações,
dos seus ócios, das suas conspirações;
usa cores morosas, tons mais-que-perfeitos:
o rosa para as lágrimas, o azul para os sonhos desfeitos.
Uma casa é as ruínas de uma casa,
uma coisa ameaçadora à espera de uma palavra;
desenha-a como quem embala um remorso,
com algum grau de abstracção e sem um plano rigoroso.
Manuel António Pina
Como se desenha uma casa; Assírio & Alvim, 2011
Quadrado Azul presents Como se pinta uma casa [How to paint a house], the third solo exhibition by Arlindo Silva at the gallery. The title of the exhibition comes from a poem by Manuel António Pina (Como desenhar uma casa [How to draw a house], 2011) and it will present new paintings from the artist.